quarta-feira, 30 de abril de 2008





Por William Silva

trab 05

Com a fundação do Instituto Psicanalítico de Berlim em 1920, inaugura-se concomitantemente um modelo oficial de formação analítica: cursos teóricos, análise didática, atendimentos supervisionados. Desde então não cessam as controvérsias sobre esta questão. As divergências sobre a formação e as políticas institucionais levaram a violentas discussões e cisões no seio do movimento psicanalítico.

Os casos mais marcantes e cujos efeitos mais se fizeram sentir entre nós foram às diversas cisões:
a) na Inglaterra, com as divergências entre M. Klein e A. Freud.
b) na França, com as fundações da S.F.P. (Société Française de Psychanalyse), E.F.P. (École Freudienne de Paris), Quarto Grupo, nas quais Lacan desempenhou um papel central. c) na Argentina com o desligamento de vários grupos da APA (Associación Psicoanalítica Argentina) no início dos anos 70.

Se de fato é a questão da formação que provoca estes rompimentos, estas cisões, não será porque a partir dela os próprios fundamentos da psicanálise se colocam em questão? Não será que quando se decide por quem pode ou não ser admitido como candidato, membro ou como quisermos chamar, dentro de um determinado grupo psicanalítico, este grupo legisla sobre a legitimidade ou não de uma prática, de uma teoria?

Diz Freud, ao discutir a questão da análise leiga: "O que exijo é que não possa exercer a psicanálise alguém que não tenha conquistado por meio de uma determinada preparação, o direito a uma tal atividade". (Psicanálise e teoria da libido 1922, p.2943).

Assim, aproximamo-nos de um outro ponto que faz parte do tradicional tripé sobre o qual se âncora a formação: a teoria psicanalítica. Freud situa a psicanálise como:
a) Método de investigação dos processos anímicos
b) Um método terapêutico
c) Uma série de conhecimento assim adquiridos que formam o corpus teórico de uma nova ciência. (Psicanálise e teoria da libido, 1922, p.2661).



A afirmação de Lacan no Seminário 11, “A Psicanálise é uma práxis orientada para aquilo que no coração da experiência é o núcleo do real”.O analista só se autoriza por si mesmo “(1967): O saber é o da Docta Ignorância. O psicanalista deve saber ignorar o que sabe (Lacan, 1953-55). Salvo este, qualquer outro é posto em reserva, pois é do saber inconsciente que se trata. (Lacan, 1967) “Mas espera-se que ele tenha muitos saberes a serem ignorados, desde que é exigência para quem venha exercer este ofício de que não seja um iletrado, de preferência tenha até muitos conhecimentos”. Este requisito remonta aos tempos de Freud, como atestam as” Atas da Sociedade Psicológica das quartas-feiras “.

Falar sobre a técnica psicanalítica é envolver a pessoa do analista, na técnica intervém também o analista, e portanto, temos que referir-nos a ele e aos problemas que lhe traz sua função.

Já sabemos que a função básica do analista é criar no paciente a possibilidade de tornar consciente o inconsciente, a discórdia da personalidade é provocada pela não aceitação de suas partes pela consciência, o que constitui a causa final de todas as perturbações psicológicas. Captar ou intuir o inconsciente do paciente, seus impulsos, resistências e transferências de inconscientes e assim compreender suas situações de conflito é a primeira das tarefas fundamentais do analista. Esta "captação” processa-se através do próprio inconsciente, posto que “só o igual pode conhecer o igual", ou seja, só se pode conhecer no outro o que é próprio de nós mesmos. Mais precisamente, só se pode captar o inconsciente do outro na medida em que a própria consciência está aberta aos próprios instintos, sentimentos e fantasias, è claro que existe a captação do inconsciente do outro caso em que a consciência do analista se fecha à percepção do mesmo conteúdo que é próprio dela mesma, e ainda mais, às vezes percebe-se no outro justamente algo que dentro de nós é rejeitado. Mas esta espécie de "captação" é, em especial, a conhecida captação do paranóico, ou numa versão menos patológica, a captação paranóide, através da qual intuem-se efetivamente certas tendências inconscientes no outro, esta captação não serve realmente de modo construtivo ao analista, porque implica a mesma rejeição que esta parte dele sofreu, e porque distorce o percebido, convertendo a mosca em elefante e o elefante em mosca. O analista só pode captar no outro aquilo que já aceitou dentro de si como próprio e o que, portanto, pode ser reconhecido no outro, sem angústia nem rejeição.


É importante então que ele esteja consciente de seu próprio inconsciente. Este fato torna necessário o analista ser analisado para estar em condições de analisar o outro. E a isto se acrescenta outro fato. O trabalho do paciente de vencer suas resistências e admitir em sua consciência os complexos instintivos e emocionais do seu passado sofre a interferência do fenômeno da transferência. Freud um dia descobre que também o trabalho do analista sofre interferência de fenômenos parecidos, que também no analista surgem impulsos e sentimentos para o paciente, alheios à sua função de compreender e interpretar a resistência e os complexos infantis deste. Freud chama este fenômeno de contratransferência, uma vez que constitui o equivalente da transferência, e assinala a importância de conhecê-la e dominá-la para que não perturbe o trabalho do analista. A contratransferência constitui, portanto, o outro fato que torna necessário o analista ser analisado antes de começar seu trabalho com os pacientes.

Para tanto, no mais além da análise pessoal e do aprofundamento teórico, necessitamos de lugares de avanço conceitual que preservem o vigor analítico. Este não prescinde da afirmação freudiana (1912) de que pesquisa e tratamento caminham juntos em psicanálise, são inseparáveis, pois sua dissociação implica de imediato o desmantelamento do discurso analítico.

Embora a supervisão ocupe um papel relevante na formação analítica, lembro de alguém dizendo que a psicanálise se pratica sem rede debaixo. Existem várias posições a respeito da supervisão acredito na supervisão como um espaço de interlocução com um outro analista onde não se visa imprimir um modelo de trabalho, mas permitir que o analista continue a se interrogar sobre sua prática.

A formação analítica é, portanto interminável.










Bibliografia

"Psicoanalisis y teoria de la libido", 1922, in Obras Completas, Ed. Biblioteca Nueva, Madrid.

J.P. Valabrega, A formação do psicanalista, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1983.

M. Safouan, Jacques Lacan e a questão da formação dos analistas, Ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1985

Lacan, Jacques. O Seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais de psicanálise. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.


.P. Valabrega, A formação do psicanalist LACAN, Jacques. Outros Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003.a Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1983.



FREUD, S. (1926:1989). A Questão da Análise Leiga-in Textos Essenciais da

Psicanálise I. Mem Mat


Freud, S. “Neurose & Psicose” [1924]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.


Análise Terminável e Interminável.


terça-feira, 1 de abril de 2008

EXPLIQUE A NEUROSE E A PSICOSE

Por William Silva


TRAB 04


São vários os tipos de neurose e vários também os tipos de psicose, os sintomas provocados por estas duas doenças também são muito variados.

Cabe aqui destacar que a diferença principal entre a neurose e a psicose é o grau de consciência que a pessoa tem do seu estado geral.

Como afirma Laplanche e Pontalis, “dificilmente é possível alegar que uma distinção efetiva tenha sido estabelecida entre as estruturas da neurose, psicose e perversão. Em conseqüência, nossa própria definição de neurose está inevitavelmente aberta à crítica de que é demasiadamente ampla” (1980).

Neurose é uma doença emocional, afetiva e de personalidade, acontece quando o sistema nervoso de uma pessoa reage com exagero a uma determinada experiência já vivida.

Uma pessoa neurótica passa a ter reações e comportamentos diferentes, fica muito ansiosa, evita sair de casa para ir a determinados lugares, tem medo de certas situações, imagina situações que pode fazer mal, ficam deprimidos mais constantemente, são mais preocupados... Enfim, uma pessoa neurótica sente tudo o que uma pessoa normal sente no seu dia-a-dia, mas sempre exageradamente. Em geral uma pessoa neurótica sabe do seu problema, sofre com isso, mas se sente incapaz de solucionar.

De modo geral, as neuroses costumam ser classificadas através de seu sintoma mais proeminente. Isso não significa que todas elas possam ter uma série de sintomas comuns, ansiedade, por exemplo.

Um dos tipos mais comuns, hoje em dia, é aquele cujo sintoma proeminente é a fobia (medo patológico), juntamente com ansiedade. A angústia geradora da ansiedade que o neurótico sente é real, o fato que provoca a angústia é que é imaginário, esse é o motivo pelo qual o neurótico não consegue se livrar de seu sentimento, da mesma forma que uma pessoa normal o faria, apenas analisando o fato em si.

Já o psicótico tem um grau de consciência muito menor, o neurótico acha suas alucinações ridículas e se esforça para se livrar delas, ou seja, ele tem consciência delas, o psicótico acredita nas alucinações e passa a agir como se elas fossem fato.

Segundo Rey, Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde (1999).

Psicose - Termo geral para transtornos mentais graves, marcados por flagrante ruptura com a realidade, alterando a percepção e a compreensão da realidade, desorganizando o comportamento afetivo e social, sem que os pacientes tenham em geral consciência do caráter patológico de tais fatos. Entre suas manifestações encontram-se delírios, alucinações, discurso marcadamente incoerente e conduta desregrada ou agitada. O termo é usado também em sentido mais amplo para referir desordens mentais em que o funcionamento da mente se encontra alterado a ponto de interferir grosseiramente com a capacidade do paciente para resolver os problemas comuns da vida cotidiana.

O termo Psicose introduzido em 1845 pelo psiquiatra austríaco Ernst von Feuchtersleben para substituir o vocábulo loucura e definir os doentes da alma numa perspectiva psiquiátrica, retomado por Sigmund Freud como um conceito a partir de 1894, psicose foi primeiramente empregado para designar a reconstrução inconsciente, por parte do sujeito, de uma realidade delirante ou alucinatória.

É a reconstrução de uma realidade alucinatória na qual o sujeito fica unicamente voltado para si mesmo, numa situação sexual auto-erótica: toma literalmente o próprio corpo como objeto de amor. ROUDINESCO, 1998, p. 621- 622.

Lacan (1979, p. 205) afirma que “o desejo do homem é o desejo do desejo do outro”. Essa afirmação remete aos primórdios da estruturação psíquica, mais especificamente ao que Lacan designou de estádio do espelho. Nessa primeira fase de constituição do desejo, que é a fase do imaginário, é no outro ou pelo outro que esse reconhecimento se vai efetivar, numa relação dual especular que aliena o sujeito nesse outro.
Num segundo momento, constitui uma etapa decisiva no processo de identificação, quando a criança é levada a descobrir que o outro do espelho não é um outro real, mas uma imagem, e ela deixa de tentar apoderar-se da imagem. Em geral, seu comportamento indica que ela sabe distinguir a imagem do outro da realidade do outro.
É necessário sair dessa alienação e é por meio da metáfora paterna que isso é possível, instituindo um momento estrutural na evolução psíquica da criança, permitindo o acesso à dimensão simbólica, afastando a criança de seu ‘assujeitamento’ imaginário à mãe e conferindo-lhe o status de sujeito ‘desejante’. O psicótico não sai da alienação, uma vez que o nome-do-pai ficou ‘foracluído’, neutralizando o aparecimento do recalque originário, provocando o fracasso da metáfora paterna e o acesso ao simbólico. Como o acesso à estrutura no registro do desejo é suspenso, conserva uma organização arcaica, em que a criança permanece cativa da relação dual imaginária com a mãe.

Os casos de psicose impõem a pessoa e a família uma situação de fragilidade social muito grande, pois o doente perde na maioria das vezes a condição de independência e necessitada de acompanhamento médico e psicoterapêutico por toda a sua vida, é de senso comum que não á cura para a psicose.

A rigor, para as neuroses, recomenda-se um acompanhamento psicotêrapeutico adequado, associado ao tratamento médico (com medicamentos) quando necessário, juntamente com a cooperação apropriada do próprio paciente e da sua família. Com essa conduta, felizmente, a grande maioria das neuroses podem ser perfeitamente controlada e/ou curada, proporcionando ao paciente uma melhor qualidade de vida e inegável bem estar.









LACAN, J. (1964) Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.

(1979) Seminário XXV – O momento de concluir


FREUD, S. (1924[1923])) Neurose e psicose; FREUD, S. (1924) A perda da realidade na neurose e na psicose.

LAPLANCHE & PORTALIS vocabulário de psicanálise- Livraria Martins Fontes Editora, São Paulo, 1982 (1995)

ROUDINESCO ELIZABETH dicionário de psicanálise - Jorge Zahar editora , 1998

Freud, S. “Neurose psicoses de defesa” [1884]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.

Freud, S. “Novas Observações sobre as neurose psicoses de defesa” [1896]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982

Freud, S. “Neurose & Psicose” [1924]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.

Freud, S. “Perda de Realidade na neurose e na psicose” [1924]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.

Lacan, J. “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose” [1966]. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1998.



quinta-feira, 13 de março de 2008

Trabalho 3 b



A importância da pulsão como um dos conceitos fundamentais da Psicanálise.

Por: William Silva



A pulsão para Freud tem quatro características fundamentais: a origem, a pressão, o objeto e o alvo. O alvo da pulsão é sempre, em todos os casos, a satisfação, a descarga da tensão ou a sua redução. A pulsão é fundamentalmente uma reivindicação permanente de satisfação, diríamos com Lacan que se trata de uma exigência constante e a todo o custo de gozo; de tal modo que o meio, o objeto da pulsão, poderá ser muito diverso. O que significa que, ao nível pulsional, é a satisfação, o gozo.

A ‘pulsão’ se nos apresenta como um conceito-limite entre anímicos e somático,como representante psíquico dos estímulos provenientes do interior do corpo e que logram chegar à alma, como uma medida de exigência de trabalho que é imposta à alma em resultado da sua coesão com o corpo” (1915c)

A pulsão <Trieb> em Freud é algo já muito distante do conceito de instinto <Instinkt>, está, portanto para além do biológico; por outras palavras, o estímulo pulsional nunca age como uma força de impacte momentâneo <momentânea Stoßkraft>, age por impacte constante <konstante Kraft>. Mas a pulsão é também algo já articulado, tem uma gramática cuja matriz é o fantasma; por exemplo, no registro do olhar, temos ver, ser visto, fazer-se ver (vozes ativas, passivas e médias). As exteriorizações da pulsão pertencem a diversas realidades das quais a conceitualização de ato procura dar conta. A tarefa nada fácil, que exige um longo e minucioso caminho pelos corredores conceituais de Freud e Lacan.

Freud em Além do Princípio de Prazer (1920) consta que o princípio de prazer não rege todo o funcionamento mental, foi ai onde Freud deu ênfase ao conceito de pulsão. Nesse momento do seu pensamento, a teoria desarticulou o princípio de prazer do processo primário do funcionamento psíquico. No processo primário não há ligação de energia, mas apenas o espaço pulsional, espaço de energia livre que pressiona constantemente por descarga, que nada mais é do que excitação. É a linguagem, como princípio de ligação, que torna possível o processo secundário e que permite a instauração do princípio de prazer.

Buscamos na linguagem expressar a falta de um Objeto que nunca será encontrado, pois não pode ser significado-traduzido-representado.

É o objeto perdido que instaura a repetição. A perda do objeto é a condição para que surja o sujeito, e para que haja distinção entre o que é representado e o que realmente existe. A delimitação de fronteiras de um espaço como subjetivo é que, o que se apresenta à percepção não é idêntico à representação ativada pelo desejo. O objeto perdido está fora do campo da representação. Tanto Freud quanto Lacan definiram as coisas, ou a Coisa, respectivamente, como resíduos que escapam de serem julgados e nomeados, e ao mesmo tempo, constituem condição para a representação.

A Coisa tem papel de bússola nos caminhos pelos quais se procura reencontrar o objeto. Então, todos os objetos aos quais a pulsão se articula representam a Coisa, mas nunca são a Coisa. Ela é incognoscível, mas é ela que dirige a escolha dos objetos. Forma um campo de força que move o sujeito sob um aspecto de impessoalidade, que o destrona de uma suposta autonomia. O sujeito, sempre buscando algo que não sabe, que julga encontrar e querendo já outra coisa, está compreendido pela idéia lacaniana de que a função sujeito é a de suporte da repetição.

Em Alem do principio do prazer (1920) Freud estabelece seu conceito de pulsa de morte em oposição à pulsão de vida “Uma pulsão é um impulso inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas, impulso que a entidade viva foi obrigada a abandonar sob a pressão de forças perturbadoras externas, ou seja, é uma espécie de elasticidade orgânica, ou para dizê-lo de outro modo, a expressão da inércia inerente à vida orgânica” (p. 47).

A partir daí, Freud verifica a existência da pulsão de morte. Surge então, uma nova concepção de pulsão e, com ela, uma nova teoria. As pulsões de vida e de morte (não mais ego x sexuais) passam a dirigir o funcionamento psíquico. Ele evidencia que as pulsões de morte se opõem às pulsões de vida. As primeiras exercem pressão no sentido da morte, da volta a um estado inorgânico e as últimas no sentido de um prolongamento da vida, numa tendência à formação de unidades maiores.

Freud relata, então, que a vida tem uma natureza conservadora “não conhece exceção o fato de tudo o que vive morrer por razões internas, tornar-se mais uma vez inorgânico, seremos então compelidos a dizer que o ‘objetivo de toda vida é a morte’”.(1920).

Lacan afirma no Seminário 11, em a “Desmontagem da pulsão” (1964, p.153), que a finalidade e função da pulsão é a sua satisfação, ou seja, chegar ao seu alvo. O trajeto da pulsão é um contorno do objeto e retorno a seu ponto de origem, o que a prepara para reativar a sua fonte e iniciar um novo trajeto. O alvo pulsional é impossível de ser atingido de maneira direta por motivos estruturais.







FONTES

Lacan, Jacques . O Seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais de psicanálise. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985

Para Ler O Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1997.

FREUD, Sigmund. Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental (1911). v .XII. In.: Edição standard brasileira das obras psicológicas compltas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. A pulsão e suas vicissitudes (1915). v. XIV. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920). v. XVIII. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. O ego e o id (1923). v. XIX. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. O problema econômico do masoquismo (1924). v. XIX In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Esboço de psicanálise (1940[1938]. v. XXIII. In.: ESB. Rio de

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Trabalho 3 a





A importância da pulsão como um dos conceitos fundamentais da Psicanálise.

Por: William Silva



A pulsão em Freud tem quatro características fundamentais: a origem, a pressão, o objeto e o alvo. O alvo da pulsão é sempre, em todos os casos, a satisfação, a descarga da tensão ou a sua redução. A pulsão é fundamentalmente uma reivindicação permanente de satisfação, diríamos com Lacan que se trata de uma exigência constante e a todo o custo de gozo; de tal modo que o meio, o objeto da pulsão, poderá ser muito diverso. O que significa que, ao nível pulsional, é a satisfação, o gozo.

A ‘pulsão’ se nos apresenta como um conceito-limite entre anímicos e somático,como representante psíquico dos estímulos provenientes do interior do corpo e que logram chegar à alma, como uma medida de exigência de trabalho que é imposta à alma em resultado da sua coesão com o corpo” (1915c)

Por isso, a pulsão <Trieb> em Freud é algo já muito distante do conceito de instinto <Instinkt>, está, portanto para além do biológico; por outras palavras, o estímulo pulsional nunca age como uma força de impacte momentâneo <momentânea Stoßkraft>, age por impacte constante <konstante Kraft>. Mas a pulsão é também algo já articulado, tem uma gramática cuja matriz é o fantasma; por exemplo, no registro do olhar, temos ver, ser visto, fazer-se ver (vozes ativas, passivas e médias). As exteriorizações da pulsão pertencem a diversas realidades das quais a conceitualização de ato procura dar conta. A tarefa nada fácil, que exige um longo e minucioso caminho pelos corredores conceituais de Freud e Lacan.

Em Além do Princípio de Prazer (1920) consta que o princípio de prazer não rege todo o funcionamento mental, foi ai onde Freud deu maior amplitude ao conceito de pulsão. Nesse momento do seu pensamento, a teoria desarticulou o princípio de prazer do processo primário do funcionamento psíquico. No processo primário não há ligação de energia, mas apenas o espaço pulsional, espaço de energia livre que pressiona constantemente por descarga, que nada mais é do que excitação. É a linguagem, como princípio de ligação, que torna possível o processo secundário e que permite a instauração do princípio de prazer.

Buscamos expressar a falta de um Objeto que nunca será encontrado, pois não pode ser significado-traduzido-representado.

É o objeto perdido que instaura a repetição. É a perda do objeto que é condição para que surja o sujeito, e para que haja distinção entre o que é representado e o que realmente existe. A delimitação de fronteiras de um espaço como subjetivo é que, o que se apresenta à percepção não é idêntico à representação ativada pelo desejo. O objeto perdido está fora do campo da representação. Tanto Freud quanto Lacan definiram as coisas, ou a Coisa, respectivamente, como resíduos que escapam de serem julgados e nomeados, e ao mesmo tempo, constituem condição para a representação.

A Coisa tem papel de bússola nos caminhos pelos quais se procura reencontrar o objeto. Então, todos os objetos aos quais a pulsão se articula representam a Coisa, mas nunca são a Coisa. Ela é incognoscível, mas é ela que dirige a escolha dos objetos. Forma um campo de força que move o sujeito sob um aspecto de impessoalidade, que o destrona de uma suposta autonomia. O sujeito, sempre buscando algo que não sabe, que julga encontrar e querendo já outra coisa, está compreendido pela idéia lacaniana de que a função sujeito é a de suporte da repetição.

Em Alem do principio do prazer (1920) Freud estabelece seu conceito de pulsa de morte em oposição à pulsão de vida “Uma pulsão é um impulso inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas, impulso que a entidade viva foi obrigada a abandonar sob a pressão de forças perturbadoras externas, ou seja, é uma espécie de elasticidade orgânica, ou para dizê-lo de outro modo, a expressão da inércia inerente à vida orgânica” (p. 47).

A partir daí, Freud verifica a existência da pulsão de morte. Surge então, uma nova concepção de pulsão e, com ela, uma nova teoria. As pulsões de vida e de morte (não mais ego x sexuais) passam a dirigir o funcionamento psíquico. Ele evidencia que as pulsões de morte se opõem às pulsões de vida. As primeiras exercem pressão no sentido da morte, da volta a um estado inorgânico e as últimas no sentido de um prolongamento da vida, numa tendência à formação de unidades maiores.

Freud relata, então, que a vida tem uma natureza conservadora “não conhece exceção o fato de tudo o que vive morrer por razões internas, tornar-se mais uma vez inorgânico, seremos então compelidos a dizer que o ‘objetivo de toda vida é a morte’”.(1920).

Lacan afirma no Seminário 11, em a “Desmontagem da pulsão” (1964, p.153), que a finalidade e função da pulsão é a sua satisfação, ou seja, chegar ao seu alvo. O trajeto da pulsão é um contorno do objeto e retorno a seu ponto de origem, o que a prepara para reativar a sua fonte e iniciar um novo trajeto. O alvo pulsional é impossível de ser atingido de maneira direta por motivos estruturais.





FONTES

Lacan, Jacques . O Seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais de psicanálise. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985

Para Ler O Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1997.

FREUD, Sigmund. Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental (1911). v .XII. In.: Edição standard brasileira das obras psicológicas compltas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. A pulsão e suas vicissitudes (1915). v. XIV. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920). v. XVIII. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. O ego e o id (1923). v. XIX. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. O problema econômico do masoquismo (1924). v. XIX In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Esboço de psicanálise (1940[1938]. v. XXIII. In.: ESB. Rio de

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

REPETIÇÃO

UM DOS QUATRO CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PSICANÁLISE

Por William Silva




Desde o inicio da civilização houve a preocupação de criar-se modelos a serem seguidos. Iniciaremos a partir da mitologia Grega, onde no principio tudo era o Caos.

Como existir era uma indeterminação - como e por quê – criou-se um Mito ou Alegoria para preencher esta lacuna.

Esses acontecimentos primordiais, uma vez produzidos, transformaram-se em modelos para a conduta dos homens. O homem das culturas arcaicas e primitivas repete esse modelo, sendo que é através dessa repetição que os fatos do cotidiano ganham sentido realidade.(GARCIA-ROZA,1986:27).. . Através dos tempos a sociedade foi se aprimorando, crescendo, surgiram religiões, filosofias, modos de governo, e sempre fundamentadas para ganhar o sentido real em uma organização repetida do passado.

Freud, tratando do caso de Dora (1905) – alguns anos após ter publicado a Interpretação dos Sonhos (1900)–, estava com o foco voltado para a recordação dos acontecimentos passados da paciente. Com o abandono desta paciente, por repetir com ele uma situação que havia vivido com o Sr. K, Freud pontua o conceito de repetição (Wiederholen, que na etimologia do alemão para o latim significa "novo pedir", ou seja, "pedir novamente") constituindo um dos pilares da Psicanálise e de suas técnicas. O tema pode ser entendido pela seguinte citação no texto freudiano de 1914, Recordar, Repetir e Elaborar: ... podemos dizer que o paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o pela atuação o atua-o (acts it out). Ele o reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem0 naturalmente, saber o que está repetindo. (FREUD, 1914: 165) Podemos ainda afirmar que a repetição é o próprio inconsciente e se dá antes da transferência. Ela é da ordem do real, do ato e possui uma inscrição simbólica. Então, o sujeito neurótico, na esperança de repetir o maior e melhor prazer que teve e está recalcado (a primeira mamada na mãe), tenta repeti-lo em todas as situações no decorrer de sua vida. Repetir significa um “novo pedir”, conclui-se que ela não existe, o sujeito neurótico simplesmente pensa que todas as situações diferentes se apresentam como iguais. Neste sentido, a análise teria como objetivo a perlaboração (agir, labor para concluir), em fazer com que o sujeito a partir do tratamento do desejo pela linguagem, através das associações livres e do manejo da transferência, viesse, a saber, de seu desejo destituindo o analista da posição de objeto de amor, racionalizando seu inconsciente.

A partir das reações repetitivas exibidas na transferência, somos levados ao longo dos caminhos familiares até o despertar das lembranças, que aparecem sem dificuldade, por assim dizer, após a resistência ter sido superada. (FREUD, 1914: 170) A resistência só ira se manifestar quando o reprimido por algum motivo estiver ameaçado, ou seja, a resistência é a guardiã do reprimido evitando assim que ele venha a ser consciente, portanto, basta que a terapia avance no sentido do reprimido para que a resistência apareça .

Ao invés dos pacientes rememorarem os conteúdos traumáticos eles tendem a repeti-los na vida presente como se fossem, de fato, sentimentos atuais. E foi pensando nesta atemporalidade da ação do recalcado que Freud formulou a idéia segundo a qual as experiências de origem traumática são revividas como atuais no espaço do tratamento, de modo que o paciente não percebe que aquilo que diz, transfere ou atua não se refere à situação presente, mas à situação passada impossível de ser rememorada e aceita no consciente.

Em Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud sinaliza que aquilo que não pode ser recordado é repetido. Analisando a resistência, infere que esta provém do ego e não do inconsciente, uma vez que o reprimido não oferece resistência. Ao contrário, luta por manifestar-se por meio da repetição. O autor afirma que a repetição seria antagônica ao princípio de prazer enquanto que a resistência estaria a serviço deste princípio (tenta evitar a emergência do material reprimido que levaria ao desprazer). Assim, o ego, respondendo ao processo secundário, impede a rememoração do material reprimido, que só encontra saída na repetição.

Repetição, inconsciente, pulsão e transferência, são os quatro conceitos da psicanálise segundo Lacan em seu Seminário 11... Ao dar destaque ao conceito de repetição enquanto conceito fundamental, Lacan é sensível à ligação que Freud estabelece entre repetição e pulsão de morte na medida em que ela mostra o que há de essencial na repetição, que Lacan designa como encontro do real. A repetição é esse trabalho fundamental da pulsão de morte que relança insistentemente algo inassimilável, da ordem do real. É esse encontro, essencialmente faltoso, que os sonhos traumáticos insistem em trazer de volta, no movimento de retorno a uma impossível origem, a um estado de repouso absoluto, com a eliminação de todas as tensões. No lugar desse objeto impossível de encontrar, o que se encontra sempre é o real, o que introduz a diferença no circuito da repetição. É este inassimilável à cadeia simbólica, traumático, que determina o movimento do desejo, que é sempre desejo de outra coisa.

Lacan se valeu do vocabulário de Aristóteles para tratar as duas faces da repetição: tiquê e automaton. Enquanto o automaton aponta para a repetição sintomática, como insistência dos signos comandada pelo princípio do prazer, a tiquê indica esse encontro do real, que vige sempre por trás do automaton, para além do princípio do prazer. Para Lacan, em toda pesquisa de Freud fica evidente que é desse real que ele trata.

A repetição é então para Lacan é algo que retorna ao mesmo lugar e por mais que se queira ou tente não consegue se lembrar. Por tanto um outro, não o mesmo, o retorno de alguma coisa que seria diferente na segunda vez se não fosse o significante..




Referências Bibliográficas

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