terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Trabalho 3 a





A importância da pulsão como um dos conceitos fundamentais da Psicanálise.

Por: William Silva



A pulsão em Freud tem quatro características fundamentais: a origem, a pressão, o objeto e o alvo. O alvo da pulsão é sempre, em todos os casos, a satisfação, a descarga da tensão ou a sua redução. A pulsão é fundamentalmente uma reivindicação permanente de satisfação, diríamos com Lacan que se trata de uma exigência constante e a todo o custo de gozo; de tal modo que o meio, o objeto da pulsão, poderá ser muito diverso. O que significa que, ao nível pulsional, é a satisfação, o gozo.

A ‘pulsão’ se nos apresenta como um conceito-limite entre anímicos e somático,como representante psíquico dos estímulos provenientes do interior do corpo e que logram chegar à alma, como uma medida de exigência de trabalho que é imposta à alma em resultado da sua coesão com o corpo” (1915c)

Por isso, a pulsão <Trieb> em Freud é algo já muito distante do conceito de instinto <Instinkt>, está, portanto para além do biológico; por outras palavras, o estímulo pulsional nunca age como uma força de impacte momentâneo <momentânea Stoßkraft>, age por impacte constante <konstante Kraft>. Mas a pulsão é também algo já articulado, tem uma gramática cuja matriz é o fantasma; por exemplo, no registro do olhar, temos ver, ser visto, fazer-se ver (vozes ativas, passivas e médias). As exteriorizações da pulsão pertencem a diversas realidades das quais a conceitualização de ato procura dar conta. A tarefa nada fácil, que exige um longo e minucioso caminho pelos corredores conceituais de Freud e Lacan.

Em Além do Princípio de Prazer (1920) consta que o princípio de prazer não rege todo o funcionamento mental, foi ai onde Freud deu maior amplitude ao conceito de pulsão. Nesse momento do seu pensamento, a teoria desarticulou o princípio de prazer do processo primário do funcionamento psíquico. No processo primário não há ligação de energia, mas apenas o espaço pulsional, espaço de energia livre que pressiona constantemente por descarga, que nada mais é do que excitação. É a linguagem, como princípio de ligação, que torna possível o processo secundário e que permite a instauração do princípio de prazer.

Buscamos expressar a falta de um Objeto que nunca será encontrado, pois não pode ser significado-traduzido-representado.

É o objeto perdido que instaura a repetição. É a perda do objeto que é condição para que surja o sujeito, e para que haja distinção entre o que é representado e o que realmente existe. A delimitação de fronteiras de um espaço como subjetivo é que, o que se apresenta à percepção não é idêntico à representação ativada pelo desejo. O objeto perdido está fora do campo da representação. Tanto Freud quanto Lacan definiram as coisas, ou a Coisa, respectivamente, como resíduos que escapam de serem julgados e nomeados, e ao mesmo tempo, constituem condição para a representação.

A Coisa tem papel de bússola nos caminhos pelos quais se procura reencontrar o objeto. Então, todos os objetos aos quais a pulsão se articula representam a Coisa, mas nunca são a Coisa. Ela é incognoscível, mas é ela que dirige a escolha dos objetos. Forma um campo de força que move o sujeito sob um aspecto de impessoalidade, que o destrona de uma suposta autonomia. O sujeito, sempre buscando algo que não sabe, que julga encontrar e querendo já outra coisa, está compreendido pela idéia lacaniana de que a função sujeito é a de suporte da repetição.

Em Alem do principio do prazer (1920) Freud estabelece seu conceito de pulsa de morte em oposição à pulsão de vida “Uma pulsão é um impulso inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas, impulso que a entidade viva foi obrigada a abandonar sob a pressão de forças perturbadoras externas, ou seja, é uma espécie de elasticidade orgânica, ou para dizê-lo de outro modo, a expressão da inércia inerente à vida orgânica” (p. 47).

A partir daí, Freud verifica a existência da pulsão de morte. Surge então, uma nova concepção de pulsão e, com ela, uma nova teoria. As pulsões de vida e de morte (não mais ego x sexuais) passam a dirigir o funcionamento psíquico. Ele evidencia que as pulsões de morte se opõem às pulsões de vida. As primeiras exercem pressão no sentido da morte, da volta a um estado inorgânico e as últimas no sentido de um prolongamento da vida, numa tendência à formação de unidades maiores.

Freud relata, então, que a vida tem uma natureza conservadora “não conhece exceção o fato de tudo o que vive morrer por razões internas, tornar-se mais uma vez inorgânico, seremos então compelidos a dizer que o ‘objetivo de toda vida é a morte’”.(1920).

Lacan afirma no Seminário 11, em a “Desmontagem da pulsão” (1964, p.153), que a finalidade e função da pulsão é a sua satisfação, ou seja, chegar ao seu alvo. O trajeto da pulsão é um contorno do objeto e retorno a seu ponto de origem, o que a prepara para reativar a sua fonte e iniciar um novo trajeto. O alvo pulsional é impossível de ser atingido de maneira direta por motivos estruturais.





FONTES

Lacan, Jacques . O Seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais de psicanálise. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985

Para Ler O Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1997.

FREUD, Sigmund. Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental (1911). v .XII. In.: Edição standard brasileira das obras psicológicas compltas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. A pulsão e suas vicissitudes (1915). v. XIV. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920). v. XVIII. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. O ego e o id (1923). v. XIX. In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. O problema econômico do masoquismo (1924). v. XIX In.: ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Esboço de psicanálise (1940[1938]. v. XXIII. In.: ESB. Rio de

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

REPETIÇÃO

UM DOS QUATRO CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PSICANÁLISE

Por William Silva




Desde o inicio da civilização houve a preocupação de criar-se modelos a serem seguidos. Iniciaremos a partir da mitologia Grega, onde no principio tudo era o Caos.

Como existir era uma indeterminação - como e por quê – criou-se um Mito ou Alegoria para preencher esta lacuna.

Esses acontecimentos primordiais, uma vez produzidos, transformaram-se em modelos para a conduta dos homens. O homem das culturas arcaicas e primitivas repete esse modelo, sendo que é através dessa repetição que os fatos do cotidiano ganham sentido realidade.(GARCIA-ROZA,1986:27).. . Através dos tempos a sociedade foi se aprimorando, crescendo, surgiram religiões, filosofias, modos de governo, e sempre fundamentadas para ganhar o sentido real em uma organização repetida do passado.

Freud, tratando do caso de Dora (1905) – alguns anos após ter publicado a Interpretação dos Sonhos (1900)–, estava com o foco voltado para a recordação dos acontecimentos passados da paciente. Com o abandono desta paciente, por repetir com ele uma situação que havia vivido com o Sr. K, Freud pontua o conceito de repetição (Wiederholen, que na etimologia do alemão para o latim significa "novo pedir", ou seja, "pedir novamente") constituindo um dos pilares da Psicanálise e de suas técnicas. O tema pode ser entendido pela seguinte citação no texto freudiano de 1914, Recordar, Repetir e Elaborar: ... podemos dizer que o paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o pela atuação o atua-o (acts it out). Ele o reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem0 naturalmente, saber o que está repetindo. (FREUD, 1914: 165) Podemos ainda afirmar que a repetição é o próprio inconsciente e se dá antes da transferência. Ela é da ordem do real, do ato e possui uma inscrição simbólica. Então, o sujeito neurótico, na esperança de repetir o maior e melhor prazer que teve e está recalcado (a primeira mamada na mãe), tenta repeti-lo em todas as situações no decorrer de sua vida. Repetir significa um “novo pedir”, conclui-se que ela não existe, o sujeito neurótico simplesmente pensa que todas as situações diferentes se apresentam como iguais. Neste sentido, a análise teria como objetivo a perlaboração (agir, labor para concluir), em fazer com que o sujeito a partir do tratamento do desejo pela linguagem, através das associações livres e do manejo da transferência, viesse, a saber, de seu desejo destituindo o analista da posição de objeto de amor, racionalizando seu inconsciente.

A partir das reações repetitivas exibidas na transferência, somos levados ao longo dos caminhos familiares até o despertar das lembranças, que aparecem sem dificuldade, por assim dizer, após a resistência ter sido superada. (FREUD, 1914: 170) A resistência só ira se manifestar quando o reprimido por algum motivo estiver ameaçado, ou seja, a resistência é a guardiã do reprimido evitando assim que ele venha a ser consciente, portanto, basta que a terapia avance no sentido do reprimido para que a resistência apareça .

Ao invés dos pacientes rememorarem os conteúdos traumáticos eles tendem a repeti-los na vida presente como se fossem, de fato, sentimentos atuais. E foi pensando nesta atemporalidade da ação do recalcado que Freud formulou a idéia segundo a qual as experiências de origem traumática são revividas como atuais no espaço do tratamento, de modo que o paciente não percebe que aquilo que diz, transfere ou atua não se refere à situação presente, mas à situação passada impossível de ser rememorada e aceita no consciente.

Em Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud sinaliza que aquilo que não pode ser recordado é repetido. Analisando a resistência, infere que esta provém do ego e não do inconsciente, uma vez que o reprimido não oferece resistência. Ao contrário, luta por manifestar-se por meio da repetição. O autor afirma que a repetição seria antagônica ao princípio de prazer enquanto que a resistência estaria a serviço deste princípio (tenta evitar a emergência do material reprimido que levaria ao desprazer). Assim, o ego, respondendo ao processo secundário, impede a rememoração do material reprimido, que só encontra saída na repetição.

Repetição, inconsciente, pulsão e transferência, são os quatro conceitos da psicanálise segundo Lacan em seu Seminário 11... Ao dar destaque ao conceito de repetição enquanto conceito fundamental, Lacan é sensível à ligação que Freud estabelece entre repetição e pulsão de morte na medida em que ela mostra o que há de essencial na repetição, que Lacan designa como encontro do real. A repetição é esse trabalho fundamental da pulsão de morte que relança insistentemente algo inassimilável, da ordem do real. É esse encontro, essencialmente faltoso, que os sonhos traumáticos insistem em trazer de volta, no movimento de retorno a uma impossível origem, a um estado de repouso absoluto, com a eliminação de todas as tensões. No lugar desse objeto impossível de encontrar, o que se encontra sempre é o real, o que introduz a diferença no circuito da repetição. É este inassimilável à cadeia simbólica, traumático, que determina o movimento do desejo, que é sempre desejo de outra coisa.

Lacan se valeu do vocabulário de Aristóteles para tratar as duas faces da repetição: tiquê e automaton. Enquanto o automaton aponta para a repetição sintomática, como insistência dos signos comandada pelo princípio do prazer, a tiquê indica esse encontro do real, que vige sempre por trás do automaton, para além do princípio do prazer. Para Lacan, em toda pesquisa de Freud fica evidente que é desse real que ele trata.

A repetição é então para Lacan é algo que retorna ao mesmo lugar e por mais que se queira ou tente não consegue se lembrar. Por tanto um outro, não o mesmo, o retorno de alguma coisa que seria diferente na segunda vez se não fosse o significante..




Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund - “Recorda, repetir e elaborar” (1914), Obras Psicológicas Completas., Edição Standard Brasileira, Rio de Janeiro, Imago Ed. 1976.

________________ - “Além do princípio do prazer” (1920), Obras Psicológicas Completas., Edição Standard Brasileira, Rio de Janeiro, Imago Ed. 1976

GUYOMARD, Patrick - O gozo do trágico: Antígona, Lacan e o desejo do analista. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1996.

KAUFMANN, Pierre - Dicionário Enciclopédico de Psicanálise, Rio de Janeiro , Jorge Zahar Ed., 1996.

LACAN, Jacques - Seminário XI, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964), Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1979.

________________ - Seminário I, Os escritos técnicos de Freud (1953-54), Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1983.

Feldstein e outros (org.). Para Ler O Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1997.

Freud, S. (1915) Artigos de Metapsicologia, volume XIV da Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.

FREUD, S. A interpretação dos sonhos (1900). In: Edição das Obras Completas da Amorrortu Editores. Buenos Aires, vol.4,5, 1989.
.