quarta-feira, 30 de abril de 2008





Por William Silva

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Com a fundação do Instituto Psicanalítico de Berlim em 1920, inaugura-se concomitantemente um modelo oficial de formação analítica: cursos teóricos, análise didática, atendimentos supervisionados. Desde então não cessam as controvérsias sobre esta questão. As divergências sobre a formação e as políticas institucionais levaram a violentas discussões e cisões no seio do movimento psicanalítico.

Os casos mais marcantes e cujos efeitos mais se fizeram sentir entre nós foram às diversas cisões:
a) na Inglaterra, com as divergências entre M. Klein e A. Freud.
b) na França, com as fundações da S.F.P. (Société Française de Psychanalyse), E.F.P. (École Freudienne de Paris), Quarto Grupo, nas quais Lacan desempenhou um papel central. c) na Argentina com o desligamento de vários grupos da APA (Associación Psicoanalítica Argentina) no início dos anos 70.

Se de fato é a questão da formação que provoca estes rompimentos, estas cisões, não será porque a partir dela os próprios fundamentos da psicanálise se colocam em questão? Não será que quando se decide por quem pode ou não ser admitido como candidato, membro ou como quisermos chamar, dentro de um determinado grupo psicanalítico, este grupo legisla sobre a legitimidade ou não de uma prática, de uma teoria?

Diz Freud, ao discutir a questão da análise leiga: "O que exijo é que não possa exercer a psicanálise alguém que não tenha conquistado por meio de uma determinada preparação, o direito a uma tal atividade". (Psicanálise e teoria da libido 1922, p.2943).

Assim, aproximamo-nos de um outro ponto que faz parte do tradicional tripé sobre o qual se âncora a formação: a teoria psicanalítica. Freud situa a psicanálise como:
a) Método de investigação dos processos anímicos
b) Um método terapêutico
c) Uma série de conhecimento assim adquiridos que formam o corpus teórico de uma nova ciência. (Psicanálise e teoria da libido, 1922, p.2661).



A afirmação de Lacan no Seminário 11, “A Psicanálise é uma práxis orientada para aquilo que no coração da experiência é o núcleo do real”.O analista só se autoriza por si mesmo “(1967): O saber é o da Docta Ignorância. O psicanalista deve saber ignorar o que sabe (Lacan, 1953-55). Salvo este, qualquer outro é posto em reserva, pois é do saber inconsciente que se trata. (Lacan, 1967) “Mas espera-se que ele tenha muitos saberes a serem ignorados, desde que é exigência para quem venha exercer este ofício de que não seja um iletrado, de preferência tenha até muitos conhecimentos”. Este requisito remonta aos tempos de Freud, como atestam as” Atas da Sociedade Psicológica das quartas-feiras “.

Falar sobre a técnica psicanalítica é envolver a pessoa do analista, na técnica intervém também o analista, e portanto, temos que referir-nos a ele e aos problemas que lhe traz sua função.

Já sabemos que a função básica do analista é criar no paciente a possibilidade de tornar consciente o inconsciente, a discórdia da personalidade é provocada pela não aceitação de suas partes pela consciência, o que constitui a causa final de todas as perturbações psicológicas. Captar ou intuir o inconsciente do paciente, seus impulsos, resistências e transferências de inconscientes e assim compreender suas situações de conflito é a primeira das tarefas fundamentais do analista. Esta "captação” processa-se através do próprio inconsciente, posto que “só o igual pode conhecer o igual", ou seja, só se pode conhecer no outro o que é próprio de nós mesmos. Mais precisamente, só se pode captar o inconsciente do outro na medida em que a própria consciência está aberta aos próprios instintos, sentimentos e fantasias, è claro que existe a captação do inconsciente do outro caso em que a consciência do analista se fecha à percepção do mesmo conteúdo que é próprio dela mesma, e ainda mais, às vezes percebe-se no outro justamente algo que dentro de nós é rejeitado. Mas esta espécie de "captação" é, em especial, a conhecida captação do paranóico, ou numa versão menos patológica, a captação paranóide, através da qual intuem-se efetivamente certas tendências inconscientes no outro, esta captação não serve realmente de modo construtivo ao analista, porque implica a mesma rejeição que esta parte dele sofreu, e porque distorce o percebido, convertendo a mosca em elefante e o elefante em mosca. O analista só pode captar no outro aquilo que já aceitou dentro de si como próprio e o que, portanto, pode ser reconhecido no outro, sem angústia nem rejeição.


É importante então que ele esteja consciente de seu próprio inconsciente. Este fato torna necessário o analista ser analisado para estar em condições de analisar o outro. E a isto se acrescenta outro fato. O trabalho do paciente de vencer suas resistências e admitir em sua consciência os complexos instintivos e emocionais do seu passado sofre a interferência do fenômeno da transferência. Freud um dia descobre que também o trabalho do analista sofre interferência de fenômenos parecidos, que também no analista surgem impulsos e sentimentos para o paciente, alheios à sua função de compreender e interpretar a resistência e os complexos infantis deste. Freud chama este fenômeno de contratransferência, uma vez que constitui o equivalente da transferência, e assinala a importância de conhecê-la e dominá-la para que não perturbe o trabalho do analista. A contratransferência constitui, portanto, o outro fato que torna necessário o analista ser analisado antes de começar seu trabalho com os pacientes.

Para tanto, no mais além da análise pessoal e do aprofundamento teórico, necessitamos de lugares de avanço conceitual que preservem o vigor analítico. Este não prescinde da afirmação freudiana (1912) de que pesquisa e tratamento caminham juntos em psicanálise, são inseparáveis, pois sua dissociação implica de imediato o desmantelamento do discurso analítico.

Embora a supervisão ocupe um papel relevante na formação analítica, lembro de alguém dizendo que a psicanálise se pratica sem rede debaixo. Existem várias posições a respeito da supervisão acredito na supervisão como um espaço de interlocução com um outro analista onde não se visa imprimir um modelo de trabalho, mas permitir que o analista continue a se interrogar sobre sua prática.

A formação analítica é, portanto interminável.










Bibliografia

"Psicoanalisis y teoria de la libido", 1922, in Obras Completas, Ed. Biblioteca Nueva, Madrid.

J.P. Valabrega, A formação do psicanalista, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1983.

M. Safouan, Jacques Lacan e a questão da formação dos analistas, Ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1985

Lacan, Jacques. O Seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais de psicanálise. Trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.


.P. Valabrega, A formação do psicanalist LACAN, Jacques. Outros Escritos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003.a Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1983.



FREUD, S. (1926:1989). A Questão da Análise Leiga-in Textos Essenciais da

Psicanálise I. Mem Mat


Freud, S. “Neurose & Psicose” [1924]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.


Análise Terminável e Interminável.


terça-feira, 1 de abril de 2008

EXPLIQUE A NEUROSE E A PSICOSE

Por William Silva


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São vários os tipos de neurose e vários também os tipos de psicose, os sintomas provocados por estas duas doenças também são muito variados.

Cabe aqui destacar que a diferença principal entre a neurose e a psicose é o grau de consciência que a pessoa tem do seu estado geral.

Como afirma Laplanche e Pontalis, “dificilmente é possível alegar que uma distinção efetiva tenha sido estabelecida entre as estruturas da neurose, psicose e perversão. Em conseqüência, nossa própria definição de neurose está inevitavelmente aberta à crítica de que é demasiadamente ampla” (1980).

Neurose é uma doença emocional, afetiva e de personalidade, acontece quando o sistema nervoso de uma pessoa reage com exagero a uma determinada experiência já vivida.

Uma pessoa neurótica passa a ter reações e comportamentos diferentes, fica muito ansiosa, evita sair de casa para ir a determinados lugares, tem medo de certas situações, imagina situações que pode fazer mal, ficam deprimidos mais constantemente, são mais preocupados... Enfim, uma pessoa neurótica sente tudo o que uma pessoa normal sente no seu dia-a-dia, mas sempre exageradamente. Em geral uma pessoa neurótica sabe do seu problema, sofre com isso, mas se sente incapaz de solucionar.

De modo geral, as neuroses costumam ser classificadas através de seu sintoma mais proeminente. Isso não significa que todas elas possam ter uma série de sintomas comuns, ansiedade, por exemplo.

Um dos tipos mais comuns, hoje em dia, é aquele cujo sintoma proeminente é a fobia (medo patológico), juntamente com ansiedade. A angústia geradora da ansiedade que o neurótico sente é real, o fato que provoca a angústia é que é imaginário, esse é o motivo pelo qual o neurótico não consegue se livrar de seu sentimento, da mesma forma que uma pessoa normal o faria, apenas analisando o fato em si.

Já o psicótico tem um grau de consciência muito menor, o neurótico acha suas alucinações ridículas e se esforça para se livrar delas, ou seja, ele tem consciência delas, o psicótico acredita nas alucinações e passa a agir como se elas fossem fato.

Segundo Rey, Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde (1999).

Psicose - Termo geral para transtornos mentais graves, marcados por flagrante ruptura com a realidade, alterando a percepção e a compreensão da realidade, desorganizando o comportamento afetivo e social, sem que os pacientes tenham em geral consciência do caráter patológico de tais fatos. Entre suas manifestações encontram-se delírios, alucinações, discurso marcadamente incoerente e conduta desregrada ou agitada. O termo é usado também em sentido mais amplo para referir desordens mentais em que o funcionamento da mente se encontra alterado a ponto de interferir grosseiramente com a capacidade do paciente para resolver os problemas comuns da vida cotidiana.

O termo Psicose introduzido em 1845 pelo psiquiatra austríaco Ernst von Feuchtersleben para substituir o vocábulo loucura e definir os doentes da alma numa perspectiva psiquiátrica, retomado por Sigmund Freud como um conceito a partir de 1894, psicose foi primeiramente empregado para designar a reconstrução inconsciente, por parte do sujeito, de uma realidade delirante ou alucinatória.

É a reconstrução de uma realidade alucinatória na qual o sujeito fica unicamente voltado para si mesmo, numa situação sexual auto-erótica: toma literalmente o próprio corpo como objeto de amor. ROUDINESCO, 1998, p. 621- 622.

Lacan (1979, p. 205) afirma que “o desejo do homem é o desejo do desejo do outro”. Essa afirmação remete aos primórdios da estruturação psíquica, mais especificamente ao que Lacan designou de estádio do espelho. Nessa primeira fase de constituição do desejo, que é a fase do imaginário, é no outro ou pelo outro que esse reconhecimento se vai efetivar, numa relação dual especular que aliena o sujeito nesse outro.
Num segundo momento, constitui uma etapa decisiva no processo de identificação, quando a criança é levada a descobrir que o outro do espelho não é um outro real, mas uma imagem, e ela deixa de tentar apoderar-se da imagem. Em geral, seu comportamento indica que ela sabe distinguir a imagem do outro da realidade do outro.
É necessário sair dessa alienação e é por meio da metáfora paterna que isso é possível, instituindo um momento estrutural na evolução psíquica da criança, permitindo o acesso à dimensão simbólica, afastando a criança de seu ‘assujeitamento’ imaginário à mãe e conferindo-lhe o status de sujeito ‘desejante’. O psicótico não sai da alienação, uma vez que o nome-do-pai ficou ‘foracluído’, neutralizando o aparecimento do recalque originário, provocando o fracasso da metáfora paterna e o acesso ao simbólico. Como o acesso à estrutura no registro do desejo é suspenso, conserva uma organização arcaica, em que a criança permanece cativa da relação dual imaginária com a mãe.

Os casos de psicose impõem a pessoa e a família uma situação de fragilidade social muito grande, pois o doente perde na maioria das vezes a condição de independência e necessitada de acompanhamento médico e psicoterapêutico por toda a sua vida, é de senso comum que não á cura para a psicose.

A rigor, para as neuroses, recomenda-se um acompanhamento psicotêrapeutico adequado, associado ao tratamento médico (com medicamentos) quando necessário, juntamente com a cooperação apropriada do próprio paciente e da sua família. Com essa conduta, felizmente, a grande maioria das neuroses podem ser perfeitamente controlada e/ou curada, proporcionando ao paciente uma melhor qualidade de vida e inegável bem estar.









LACAN, J. (1964) Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.

(1979) Seminário XXV – O momento de concluir


FREUD, S. (1924[1923])) Neurose e psicose; FREUD, S. (1924) A perda da realidade na neurose e na psicose.

LAPLANCHE & PORTALIS vocabulário de psicanálise- Livraria Martins Fontes Editora, São Paulo, 1982 (1995)

ROUDINESCO ELIZABETH dicionário de psicanálise - Jorge Zahar editora , 1998

Freud, S. “Neurose psicoses de defesa” [1884]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.

Freud, S. “Novas Observações sobre as neurose psicoses de defesa” [1896]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982

Freud, S. “Neurose & Psicose” [1924]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.

Freud, S. “Perda de Realidade na neurose e na psicose” [1924]. ESB. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1982.

Lacan, J. “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose” [1966]. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1998.